O Inglês Americanizado: Cowboys, Ferrovias e a Língua Inglesa
A influência do linguajar do cowboy sobre a língua inglesa deve-se muito ao desenvolvimento nos meios de comunicação e transportes no final do século XIX. O estilo de vida do cowboy era minuciosamente descrito em jornais, livros e outras publicações da costa leste, o que permitia a muitos escritores, como o dentista nova-iorquino Zane Gray, descrever emocionantes cenas do oeste sem realmente tê-las visto de perto. E, assim, nasceu o mito do cowboy.
Alguns dos personagens do mito criaram precedentes que mais tarde viraram uma enorme pepita de ouro para os estúdios de Hollywood. De todos, o que obteve maior sucesso foi um senhor chamado William Cody ou Bill Cody, que ganhou fama internacional com o nome de Buffalo Bill. Depois de uma vida atribulada na fronteira, Buffalo Bill demonstrou um belo faro para negócios e acabou montando o Wild West Show em 1883. O show fez o maior sucesso de bilheteria, tanto na América quanto na Inglaterra. O mito virava realidade aos olhos do espectador; a imagem e a linguagem do cowboy ganhavam novos adeptos. Basta dizer que a própria rainha Victória e uma boa parte da corte acharam, britanicamente, o espetáculo “ muito interessante ,” o que quer dizer que ficaram empolgadíssimos com as estripulias de Buffalo Bill e seus comparsas.
Tanto Buffalo Bill, quanto os chamados cattle barons (os barões do gado) como Joseph McCoy, cada um a seu modo, conseguiram tirar o maior proveito de uma invenção mágica que os índios chamavam The Iron Horse (cavalo de ferro), quer dizer, a locomotiva a vapor, a maria fumaça. Foi ela que permitiu a realização do sonho de realmente unir todos os estados e territórios. Até então, a união existia muito mais na retórica, mesmo depois da sangrenta Guerra Civil (1861 até 1865). As distâncias eram enormes e as dificuldades de locomoção persistiam. A solução já tinha sido encontrada no lado do Atlântico e até mesmo no lado do Pacífico, onde malhas razoáveis de ferrovias permitiam o bom deslocamento dos cidadãos.
Mas entre a malha da costa do Pacífico e a do leste havia um vazio de 2.740 km. Incentivadas pelo governo federal, duas grandes empresas ferroviárias, a Union Pacific e a Central Pacific , aceitaram o desafio de cobrir essa distância o mais rápido possível. Os subsídios do governo e o espírito de competição entre as duas companhias, resultaram no seguinte esquema: a Central Pacific começaria de Sacramento, Califórnia, em direção ao leste, e a Union Pacific sairia de Omaha, em Nebraska, em direção ao Oceano Pacífico. Os rumos seriam coordenados de forma que as duas empresas deveriam se encontrar em algum lugar a meio do caminho. O ganho era por quilômetro, portanto quem colocasse mais trilhos sairia ganhando. Juntas, as duas empresas montaram 2.857 km em três anos e, finalmente, se encontraram em Promontory Point, no estado de Utah, no dia 10 de maio de 1869.
O fascínio por trens virou mania e o linguajar associado às ferrovias foi rapidamente assimilado pela população. Os trabalhadores da ferrovia eram rápidos na invenção e adaptação de palavras e expressões, baseando-se na experiência com outros meios de transporte. Por exemplo, a maior parte da terminologia ferroviária veio do jargão dos transportes marítimos, como fare (preço de passagem) steward/stewardess (comissário/a), cabin (cabine), freight (frete, carga), e até mesmo os verbos to board (embarcar) e to land (desembarcar). Foi também com a maior naturalidade que esse tipo de empréstimo ocorreu mais tarde com os transportes aéreos.
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta
escrito por John D. Godinho
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